Covid-19: entenda as consequências da falta de oxigenioterapia em Manaus
- fevereiro/2021
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Em janeiro, a cidade de Manaus (AM) sofreu um colapso sanitário por conta do aumento do número de casos de Covid-19. Essencial ao tratamento, o oxigênio acabou, levando centenas de pessoas a óbito.
No primeiro dia do ano, a capital amazonense somava 24 mil novos casos. Quinze dias depois, eram mais de 69 mil novos contaminados. A consequência desse quadro foi a superlotação de hospitais, mais de 90% dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ocupados e escassez generalizada de recursos.
A doença causa uma inflamação nos pulmões, impedindo que o órgão transfira oxigênio ao sangue e às células. Alguns pacientes, no entanto, desenvolvem quadros de hipóxia silenciosa, em que a oxigenação está comprometida, mas o indivíduo não demonstra sintomas como dispneia.
“É possível que o Sars-Cov-2 tenha uma ação que iniba a resposta dos receptores envolvidos na quimiossensibilidade aos níveis de oxigênio”, explica o pneumologista Fábio Ferreira Amorim, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
Impacto da ventilação mecânica no tratamento da Covid-19
As estratégias de oferta de oxigenação são essenciais para o tratamento de pacientes com Covid-19, em função do comprometimento dos pulmões. As formas de oxigenioterapia mais utilizadas são por vias não invasiva (via cateter ou máscaras conectados a máquinas), ou invasivas, como é o caso da intubação para ventilação mecânica para pacientes graves.
Essas medidas são indicadas para pacientes com quadros de hipoxemia — quando os níveis de oxigenação estão abaixo de 90%. “É importante manter uma saturação arterial entre 90% e 96% para garantir o transporte de oxigênio para os tecidos. Além disso, a pressão arterial de oxigênio no sangue arterial deve ser acima de 65 mmHg”, comenta Amorim.
No entanto, a ventilação mecânica está associada ao aumenta o risco de morte. Segundo o Intensive Care National Audit and Research Center (ICNARC), do Reino Unido, a mortalidade pode chegar a dois terços dos pacientes com Covid-19. No Brasil, um levantamento feito pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) aponta que a mortalidade de pacientes graves que dependem de ventilação mecânica chega a 66% – a taxa de referência de mortalidade em UTI é de 21%. “Ou seja, de cada três pacientes que vão para a ventilação mecânica, apenas um sobrevive”, descreve o coordenador do projeto UTIs Brasileiras, o médico intensivista Ederlon Rezenda, em entrevista à CNN.
Consequência da falta de oxigenioterapia em Manaus
Em Manaus, segundo a Superinteressante, o déficit diário de oxigênio chegou a 48,3 mil m³. Para repor o oxigênio em um paciente internado em caso moderado, o consumo varia de 1 a 5 litros [0,001 e 0,005 m³] por minuto. Casos mais graves podem ultrapassar 60 litros por minuto. No pico da primeira onda da pandemia, entre abril e maio, a demanda por oxigênio foi de 30 mil m³ por dia. Em épocas regulares, sem pico de internações, a média é de 17 mil m³ ao dia.
Segundo Amorim, chama atenção, nesse caso, a má gestão dos recursos. Na visão do pneumologista, há uma tendência ao uso liberal do oxigênio, com menor consequência aos efeitos da hiperoxemia – como a geração de radicais livres, lesão pulmonar e outras condições adversas. “Geralmente, o oxigênio está facilmente disponível em ambiente hospitalar”, afirma.
O uso racional de oxigênio na assistência evita o aumento desmedido nos custos para o sistema de saúde. “Existe a necessidade de sermos criteriosos, pois não é possível afirmar que a situação de Manaus não possa ser repetida em outros locais”, acrescenta o pneumologista.
Sequelas físicas
A falta de reposição de oxigenação afeta as células. Sem energia, elas comprometem o funcionamento dos órgãos, levando à falência e culminando com o óbito. Em pacientes com o quadro contornado, pode haver sequelas motoras ou distúrbios de fala permanentes, além de demências e perda de funções como a visão ou a memória.
Em casos mais graves, a falta de oxigenioterapia pode evoluir para o coma vigil – quando o cérebro pode passar anos sem responder a estímulos. “No sistema nervoso, podem ser observadas alterações desde agitação psicomotora até coma, convulsões e parada respiratória”, explica Amorim. Já em relação aos danos no sistema cardiovascular, diz ele, é possível desencadear arritmias cardíacas, depressão miocárdica, choque e, em última instância, parada cardiorrespiratória.
A baixa pressão de oxigênio no sangue arterial da circulação pulmonar é um dos principais estímulos ao aumento da pressão na artéria pulmonar. A hipertensão arterial pulmonar resultante pode levar a cor pulmonale, piorando o desempenho cardiovascular e a oferta de oxigênio para os tecidos.
“Ademais, estudos mostram que a hipoxemia esteve associada à piora do desempenho cognitivo em longo prazo de pacientes que tiveram Síndrome de Desconforto Respiratório Agudo e sobreviveram”, completa Amorim.
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Redação Secad
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