Conheça as novas diretrizes para manejo do comportamento suicida
- novembro/2020
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O suicídio é considerado um problema de saúde pública global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano 800 mil pessoas tiram a própria vida. A psiquiatria, entretanto, é capaz de perceber sinais de comportamento suicida e intervir rapidamente, oferecendo tratamento correto e evitando o ato autolesivo.
Até agora, a atuação dos psiquiatras nesses casos era baseada na literatura internacional e em suas práticas de rotina. Não existiam protocolos que orientassem o manejo da situação no contexto do sistema de saúde e da realidade brasileira, mas esse cenário deve mudar em breve.
Em outubro, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicou as primeiras diretrizes para a abordagem do comportamento e da ideação suicida no país. Assim, profissionais de saúde passam a contar com um plano de ação padronizado.
O documento foi elaborado pela Comissão de Emergências da ABP e está dividido em duas partes. A primeira já foi divulgada e apresenta as mais recentes evidências em relação aos fatores de risco e proteção, avaliação e intervenção médica. A segunda tem previsão de lançamento ainda em 2020, e introduz o Plano de Segurança a ser adotado.
Para estar sempre em dia com a área, conheça a Atualização em Psiquiatria desenvolvida em parceria com a ABP.
Definições do quadro de comportamento suicida
Conforme a ABP, as definições existentes até então eram tidas como variáveis e imprecisas. Por isso, foram reformulados os estágios e critérios do comportamento suicida. A nova padronização elenca quatro momentos:
>> Ideação suicida: pensamentos passivos sobre querer estar morto ou pensamentos ativos sobre se matar, não acompanhados de ações preparatórias.
>> Plano de suicídio: o indivíduo toma medidas para ferir a si próprio, mas é impedido de iniciar o ato autolesivo por ele mesmo ou por terceiros.
>> Tentativa de suicídio: atividade potencialmente autolesiva, associada a pelo menos alguma intenção de morrer por causa dela. Pode ou não resultar em lesão real.
>> Suicídio completado: ação autolesiva que resultou em fatalidade e foi associada a pelo menos alguma intenção de morrer como resultado do ato.
Fatores de risco e de proteção
Ainda que qualquer pessoa possa desenvolver um comportamento suicida, aquelas que apresentam fatores de risco genético e psicológico estão mais propensas. Para a ABP, a ação autolesiva só é desencadeada quando há um somatório dessas características.
No documento da entidade, os fatores de risco são classificados em uma escala de associação de 1 a 4, sendo 4 o índice mais elevado. Entre as condições que receberam essa classificação estão o histórico de suicídio na família, o uso abusivo de álcool e drogas, a esquizofrenia, os transtornos do humor, o transtorno de ansiedade e os distúrbios do sono.
Por outro lado, a influência dos fatores de proteção sobre as ações do indivíduo é significativamente menor. As diretrizes apontam o uso de antidepressivos, a religiosidade, o sono regular e a confiança nas próprias habilidades de enfrentamento e resiliência como os principais redutores de risco. A ABP reforça, entretanto, que eles não suprimem a necessidade de tratamento e monitoramento.
Avaliação e intervenção
Quando o paciente procura auxílio médico relatando comportamento suicida, o primeiro passo é descartar emergências como traumas cerebrais e intoxicações. O processo de atendimento deve ser iniciado como o de qualquer outra emergência médica. Com essas possibilidades eliminadas, passa-se para a avaliação da gravidade do quadro.
O objetivo do profissional de saúde é coletar o máximo de informações sobre o histórico psiquiátrico, o estado mental atual e a natureza dos pensamentos suicidas, assim como os sentimentos e os planos associados a eles. Também é o momento de identificar fatores de risco e prevenção.
A recomendação é de que essa análise se atenha a um intervalo de dez ou 15 minutos, evitando exaurir o indivíduo emocionalmente. Quando viável, é interessante colher as percepções dos familiares ou acompanhantes. O uso de escalas de medição de intenção suicida é desaconselhado pela ABP, uma vez que elas não possuem a validade preditiva necessária.
Após o exame clínico e entrevista, o médico deve elencar os diagnósticos mais prováveis, e então prosseguir com as medidas interventivas para garantir a rápida remissão do quadro e início do tratamento.
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Redação Secad
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